terça-feira, 6 de abril de 2010

A Busca

O poeta procura a palavra
como procura o sentido da letra.

O Poeta procura a si mesmo
como procura pela sineta
pela simetria da letra.
da letra disforme
da forma sem cor.

O Poeta procura o poema
como procura a si mesmo
como procura pela busca
pela busca de si mesmo.

O poeta é alguem, que encontrou a palavra
que encontrou a si mesmo
que recitou o poema.

O Poeta é você, que busca a palavra
que suga o poema.

O poeta sou eu! que escreve esse poema!

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Óleo sobre tela - Rua de pedra - 2005


IMORTAL

Tirem as palavras de Goethe
Gritem à melodia de Bach
Mozart...
Dostoievski...
Kierkegaard...
São todos mortais.

Joguem ao pó de seus livros
E apaguem suas idéias.
Chamem Guimarães e Machado
E sente-se à mesa comigo.

Comemos e bebemos
As palavras de Clarice
...Brindemos Hermann Hesse
Com seu Lobo da Estepe.

Serei eu IMORTAL...?
Sou filósofo, teólogo, poeta, artista...
Recrio mundos, penso idéias.
O universo me pertence.

Óleo sobre tela - Fim de tarde - 2004


Uma garrafa de vinho
Uma macieira
E meus poemas;
É tudo que preciso.

Uma folha branca
Uma caneta
E meus desenhos;
É tudo que tenho.

Uma inspiração
Uma mata virgem
E meus sentimentos;
É tudo que sinto.

Um pôr do sol
Uma relva molhada
E minhas estrofes em versos...
É tudo que me resta.

Óleo sobre tela - Os esponsais - 2005


DESCOBERTA

Fui descobrindo as palavras
Tão cedo caia a madrugada.
Fui tecendo a alvorada
No ritmo do amanhecer.

E ao som dos versos descobertos
Fui preenchendo o pensamento
Com idéias dispersas
Mas cheias de talentos.

Fui desvelando as palavras
Tão cedo caia a madrugada.
Fui tecendo a alvorada
No ritmo do amanhecer.

Mas adormeci ao som dos versos
E de cansaço e sono
A pena deslizou-se a mesa
Despertando o talento das letras.

Fui descobrindo as palavras
Tão cedo caia a madrugada.
Fui tecendo a alvorada
No ritmo do amanhecer.

Mas acordei ao som dos versos
E logo deslizei a pena
Arrancando o encanto
Retirando a magia
E descobrindo-me poeta.

Óleo sobre tela - Paisagem - 98


VEM

Vem!... Silêncio das manhãs incertas
A calar minha fala muda
E a preencher esse desejo sufocado
Pela falta de palavras em meu mundo.

Vem!... Doce e alegre sabor em doses
De bebidas embebidas num mar
Em ondas que bate forte
E preenche esse meu anseio por palavras.

Vem!... Ouça o som da dança e se jogue
Ao ritmo da vida que gira, gira e dança...
E dança a balada do amor e esquece a dor
O pranto e dance, dance e cante enquanto a tempo.


Vem!... Debruce sobre meu poema e o recite
Ao som da tinta que contorna minha fala
Molhada pelo meu pensamento
E escute meus dedos em movimento e Vem!

Vem!... E seja para mim a inaudita
Palavra poética que ainda dorme
Em um canto perdido entre
O imaginário e o desconhecido e Vem!

Óleo sobre tela - Monet - 99


EU E ELA

Ela não parava de bater minha porta
E de gritar meu nome pelos corredores,
Chamando numa contínua insistência
Para que eu a deixa-se entrar
E se deitar ao meu lado:
Abraçados e juntos... Eu e ela.

Mas relutava comigo e ignorava sua presença. Virava para o lado e cobria o corpo, fingindo não ouvi-la chamar.

Apenas conferia a luz apagada
E a porta trancada. Na mesa uma pilha de papel e canetas; ouvia apenas o vento soprando pela fresta da porta, um silêncio ensurdecedor.

Pensei em ter novamente meu sono de volta e meus pés aquecidos pelo calor da coberta. Com meus olhos fechados pelo cansaço do dia e o corpo sonolento esperando apenas o dia nascer;
E o relógio tocar.

Mas ela continuava a me chamar e me pedia insistentemente e com veemência para que eu a acolhesse no quarto comigo
Apenas mais uma noite...

Ela queria sentir novamente minhas mãos: meus dedos, meus olhos e minha pena molhada deslizando em seu corpo outra vez; meus pensamentos e sentimentos.

Contudo, meus olhos estavam pesados e meus dedos cansados. Não queria recebê-la aquela noite, mas não podia deixá-la dormir lá fora, sozinha, no escuro, ao relento da madrugada.

Então, lentamente ela foi entrando em meu quarto; Invadindo-me com suas palavras.
Cobrindo-me com suas frases
E me preenchendo de sonetos
E estrofes cheias de rimas.

Enfim, pude voltar novamente para cama.
Abraçados e juntos... Eu e ela,
Como dois jovens amantes:
... A poesia e eu!

Óleo sobre tela - Goiás velho - 2005


CENSURA

Estão querendo calar meus poemas
E censurar minhas palavras.
Já cortaram minhas idéias
E arrancaram meus pensamentos.

Estou vivendo num exílio
E condenado ao silêncio;
Estou sendo perseguido
E torturado aos poucos.

Fui obrigado a escrever
Em parágrafos plagiados.
Fui obrigado a pensar
E a publicar em jornais.

Podem criticar meus poemas
E confiscar meus livros.
Podem quebrar minhas telas
E queimar meus quadros.

Mas não tirarão de mim;
Minha vontade de viver,
Meu prazer de escrever!

Óleo sobre tela - capelinha - 2004


A ARTE DE ESCREVER

Escrever poemas não é fácil
Mas não é preciso ser ágil,
É preciso ser poeta
Ter sangue de artista
E talento pra escrita.

Escrever poemas não é difícil
Basta ter uma pena
E um pedaço de papel,
Ouvir as palavras...
Traçar os sentimentos
E deixar cair à tinta nas letras.

Escrever poemas é preencher um vazio
É ter um sonho solitário
E contá-lo para o mundo.
É vagar numa prancha e expressar num mar
Um abismo de idéias;
Um universo de palavras.

Óleo sobre tela - peixes de aquario - 92


PALAVRAS

Corra seus olhos
Em minhas palavras

E derrame gotas de reticências
Em minhas frases.

Respire comigo o fragor desse poema,
E deleite-se em meus pensamentos
O prazer de pena molhada,
Deslizando em seu corpo cálido.

Óleo sobre tela - orquídeas - 97


PELA ÚLTIMA VEZ

Se em algum dia pela manhã
Meus olhos não se abrirem,
Não preocupes, estarei dormindo.
Ou provavelmente tentando
Despertar de meu sono...

Os dias passarão e não verei mais
As lindas manhãs que tantas vezes
Acordaram-me e despertaram-me
De meu sono e sonhos tão distantes.

Quisera eu poder um dia acordar e...
Em outro lugar distante...
Bem distante...
Abrir meus olhos...
E ver a manhã pela última vez.

POEMA DA SAUDADE

Sei que é tempo de partir
Deixar a lágrima cair
Poder voar sem fechar as asas
E ver o horizonte se abrindo
Sem receio de pousar.

Sei que é tempo de partir
Deixar o sorriso sem graça
Poder ver o sol se pondo
Sem receio de chorar.

Sei que é tempo de partir
Poder olhar para trás
E vislumbrar um futuro
Semeado com alegria
E cultivado com afeto.

Sei que é tempo de partir
Sei que o tempo não existe
E que os poetas apenas sonham
... Palavras e letras efêmeras
Mas os amigos são eternos.

Óleo sobre tela - O barco - 2005


LÁGRIMAS

Minha alma chora por dentro,
E lágrimas de vidros deslizam
Em meu pesado coração,
Quebrado pela dor da incompreensão.

CORAÇÃO

Sopita ao coração ardente
Queimando rosto em gotas
De lágrimas no lençol;
Listras de raios fúlgidos
Em horizontes poentes
De brisas cálidas.

Palpita ao coração solitário
Que solta gemidos em peles fúlgidas
Pelos ventos expoentes do norte
Em sonolentos gritos
Cadentes...
Sorridentes...

Chora ao coração perdido
Em névoa de espumas,
Presas pelo passado de tristezas
Em incertezas e caminhos...
Traçados, rasgados...
Cortados, sangrados...

DESPEDIDA

Não quero dar a partida
A certeza de que nunca mais
Voltaria a vê-la.
Nem a destreza ou a tristeza dos anos
Seriam motivos de rúdidos e duros
Alvos de adeus.

Quem ao acaso separou os laços
E rompeu palavras não ditas,
Transmitidas por olhares e
Sorrisos incertos e tímidos;
Quebrando a distância e
Selando barreiras.

Se ao menos me fosse dado
Voltar o oportuno e profícuo
Dias de meus anos passados,
Estaria novamente em bosques
E parques à procura incansável
De seus ares e passos.

Remontando o tempo saudoso
Da iníqua sorte
Em que o destino encarregou-se de unir,
Não esconderia e fugiria ao seu encontro;
Ruborizado, porém entorpecido,
Em cada suspiro e afago deixado.

ARDENTE

Coça tosa coça
Enrosca encosta
Embola e joga,
Quem corre e escorre.

No campo encanta e canta
Espanta e sangra,
Enquanto dança e alcança
O céu, o mar, o lar.

Faz o sol cadente, ardente.
Ardendo, envolvendo,
Gemendo em chamas e fogo
Lascívia em corpo desnudo.

Veludo peludo e mudo
Num crepúsculo em cores
Quentes... Fortes... Nuas...

Óleo sobre tela - Arara vermelha - 98


INSÔNIA

São 02h10 da madrugada e estou sem sono.
A janela esta aberta e vejo o céu
Límpido e negro com estrelas
Cintilantes e radiantes.

Quanto mais habito a noite
Mais me encanto com ela.
Nela encontro perdida
O imenso universo de palavras
Esperando serem contempladas.

Já são 04h30 da madrugada e estou sem sono.
Ouço apenas o silêncio harmônico e melódico
Maestrado pelas cores
Misturadas em satélites e astros
Calmos e solitários.

Debruço-me sobre meu peito
E mergulho no horizonte
Vago e devaneio do pensamento;
Vendo apenas a aurora chegar
E o sol raiar.

QUEM DISSE

Quem foi que disse
Que poetas escrevem
Poemas e poesias
Com palavras desconexas e centrífugas?

Com linhas soltas em reticências
Em frases rimadas de versos
Nos diversos sonetos e estrofes.

Com ritmos parafraseados
Como artistas das letras
Portadores do saber e
Amantes do ócio.

Boêmios em noites frias e cálidas
Em luas pálidas e sofridas;
Espasmos de solidão e desertos

Ébrios e sóbrios em buscas
De bares com Campare
E gelo com Vodka
Degustadas com azeitonas verdes.

E vinho tinto derramados
Nas folhas rabiscadas
Traçadas em tintas azuis
Nas madrugadas escuras
Das ruas descalças de Ipameri?

Quem foi que disse
Que os poetas escrevem
Poemas e poesias?

Eles também sofrem, amam e gozam;
Sentem fome, sede e medo...
Assim como eu!

ILHA

Sou como uma ilha
Imersa entre dois sentimentos
Que ao som das águas bravias
Lanço-me no mar de ilusões...

Como um náufrago ancorado no porto
Jogo-me em terra firme
Procurando quem possa me ver...

Espero ansioso sua chegada
Caminhando a passos lentos...

O vento forte forma ondas
Que vem morrer no litoral
Cobrindo de areias e estrelas d’água
Os pés que um dia foram meus...

IMAGEM

Olhei para o espelho da alma
E não encontrei ninguém

Recolhi o que sobrou
E guardei minhas emoções...
Mas derramaram-se em lagrimas
Meus sonhos...

E sinto em meu peito
À saudade nostálgica
Da mocidade vivida.

INFÂNCIA

O menino do rio
Sobe a rua logo cedo
Olhando ao longe
O Caminho percorrido.

Com o sol a pino e suor na testa
Não Lembra nem ouve
Seu nome ressoando
Pela mãe aflita...
A comida servida.

Canta menino do rio...
Canta às margens de seus sonhos
E vem brincar na terra...
Na água... No penhasco...


E na calçada de pedra...
Vem menino do rio
Jogar bola na areia e
Empinar seu papagaio.

Óleo sobre tela - Outono - 98


SONO

Ah! Terrível sono que assola
Com dores em dedos pesados.
Olhos profundos e lentos
Fechados pelo tempo,
Adormecidos pelo cansaço.

Abate no corpo a dormência
E adormece lábios secos.
Pele que deita macia,
Repouso em tempo longo.

Ó noite que aflora o pensamento
Prolonga esse tênue momento.
Alegre o ritmo a pulsar,
A dormir sinto o corpo
A implorar sono leve e eterno.

POEMA SEM PALAVRAS

Não quero um poema com palavras
Nem dizer em estrofes o desfecho.
Pode ser perigoso e arriscado
Usar frases e me declarar.

Não quero contar o que houve
Nem ao menos dizer o que vi.
Pode ao final me entregar
Mas gritarei minha inocência.

Não quero negar minha culpa
Nem dizer que fui vítima.
Podem declarar minha sentença
Mas voltarei sem arrependimento.

Quero ser preso novamente
Passar uma noite apenas.
Poder ver a lua e as estrelas
E gotas de chuvas escorrendo
.

Quero ser apenas um corpo
Passar uma volta apenas.
Poder mergulhar em Atenas
E ouvir sussurros molhados.

Quero ser tocado de novo
Passar sua pele na minha;
Poder despir minha mente
E te encontrar novamente.

ENCONTROS

Corremos em praias desertas
E vistamos o sereno da meia noite
A cobrir nossos corpos
Em névoas de gozo e alegria.

Fechamos os olhos da tênue realidade
E desvelamos os segredos da magia
Escondidas em palavras seladas.

Apenas corra seus olhos nos meus
E permita-me cobri-la com meu manto
De desejo e audácia...

Com fino toque de ternura e sutileza
Mergulho em seus lábios
E beijo-a ardentemente
Em delicados suspiros
De amor e volúpias.

CONVITE

Quero alguém pra brincar
Que possa festejar,
Sair para amar
Entrar no mar
E abraçar o litoral.

Quero alguém pra dançar
Que me ensine a bailar,
Sair para respirar
E despir o vendaval.

Poder rimar sem pensar
Escrever e falar,
Silenciar seu olhar
E tocar sem ferir.

Quero alguém pra sentir
Que me deixe sorrir,
Sair para dormir
E acordar ao seu lado.

domingo, 29 de junho de 2008

DESCANÇA

Alcancei o ápice da esperança
E a ânsia da dança
Cansa-se ao fim da lembrança

Quantos caminhos em meio à andança
Dançava sorvendo a semelhança
Sangrando entranhas, as dores da aliança.

Óleo sobre tela - sítio - 2005


REVELE

Não me conte seus segredos
Nem me mostre seus desejos
Tenho também meus medos
Escondidos em palavras
Sufocados entre frases

Dizem-me quais são seus planos
Que contarei minhas intenções
Revele meus pensamentos
E selarei nossa procura.

ALMA DO POETA

Quero uma alma de poeta
Quero viver sem nenhuma moeda
Ser apenas mais um...
Em meio a essa selva
Pedra desfeita em pedaços
Relva virgem intocável e pura.

Quero uma alma de poeta
Que me leve ao descampado
Sem ser tocado nem desejado
Sonhos rasgados e intragáveis
Risco apenas o rastro deixado de lado

Quero uma alma de poeta
Quero viver como Hesse
Ser levado por veredas
Ser chamado de lampejo
Poder viver num vilarejo
Tomar vinho num barzinho
E ter a alma de um poeta.

sábado, 28 de junho de 2008

ÍMPETO

Foi nascendo dentro de mim
Um ímpeto que não sei de onde vem,
Não cala a voz que tem
E a cada gesto dado...

Transpira uma palavra...
Respira sentimento...
E inspira liberdade.

Foi nascendo dentro de mim
Um ímpeto que não tem mais fim,
Sufoca e abafa com seu abraço
E a cada gemido dado...

Transmite movimento
Transforma o impulso
Transgride a violência.

POETA

Sou poeta da loucura
Que passa a versos de esperanças
A quem tocar essas palavras.

Sou poeta do amor
Procurando a quem acariciar
Minhas rimas e frases...

Sou poeta dos sonhos
Inauditos e visíveis
Nas fagulhas da escuridão...

Sou poeta de mim mesmo
Sufocado entre palavras...

MINHA MÃE

Minha mãe costura sonhos
Tecidos em esperança
Moldados na lembrança
Entrelaçados pelo medo
E cortados na coragem.

Minha mãe rabisca o tempo
Fazendo do passado seu rascunho
Apagando da folha a tristeza
Copiando-a na alegria
E escrevendo com as mãos da sabedoria.

Óleo sobre tela - Ipé amarelo - 98


JANELAS

Estou preso à janela de minha alma
E escorem gotas de chuvas em longos
Pingos de lagrimas em minha vidraça.

Vejo pedras e escadas molhadas
Descendo ao relento do tempo
Minhas dores e alegrias.

Minha vista se perde no horizonte
E minha mente voa...
Ouço
apenas o tempo passar e a chuva cair

ALMA

Tenho na palma da mão
Uma alma que não abre mão.
Que joga fora o corpo que tem
E salta a procura
Da alma gêmea que sente
Não mais encontrar.

Esta pressa no passado
E vaga sem corpo a procura
Do futuro esquecido
Consumido e hoje foragido
.

Tenho na alma da vida
Um corpo perdido e sofrido
Despido com o tempo
E sentido com o vento

Mas é lento...
E tem cheiro de fel
Molhado no céu
Banhado com mel.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

PARCEIROS

Eu e Deus
Somos poetas.
Trocamos os poemas
E cobrimos de palavras

Ele cria com a fala
Eu recrio com a falta.
Ele sopra e dá vida
Eu respiro e me calo.

Eu e Deus
Somos artistas.
Combinamos os talentos
E colocamos melodias.

Ele harmoniza a natureza
Eu a transformo em beleza.
Ele faz do caos um cosmo
Eu faço da tela um quadro.

LAÇOS

Somos somente dois estranhos
A andar de mãos dadas pelos
Labirintos da floresta escura

Imagino à minha volta toda natureza
Afogando-nos com sua magia...

Vemo-nos perdidos; sufocados...
Entrelaçados pelo desejo
Perdido e reencontrado.

Óleo sobre tela - reflexo - 98


O TEMPO

Brinco com o tempo
Como se brincasse com o vento.
Invento o pensamento
E contemplo o firmamento.

A INSPIRAÇÃO DO POETA

Vejo a cor branca da folha ainda muda
Sem sombras num traço nem fala,
Em rabiscos sem forma e beleza.

Com um ruído ensurdecedor
A folha grita
E clama por palavras e frases,
Capazes de preencher e emergir idéias.

Num vazio de cores e imagens.
E sem Ter o que dizer
A pena não se move e cai...

Assim como é desejada e possuída a amante
Pelo amado que a busca incansavelmente,
É a folha em busca de palavras
Desejando ser lida; consumida e tocada.

Mas o amado das palavras, o poeta das idéias,
Anseia pelo seu amor.
Vagando em névoa num vazio
A impotência do pensamento.

Ao que a folha branca lhe pergunta:
- Não sabes o que me dizer?
- Comece com uma letra maiúscula,
- E no fim, um ponto final.
- No meio?
- Ah!... No meio você coloca um poema.

É então que a expressão de suas linhas cobertas
Em rosto de gozo e alegria,
Sorri pela tinta que desliza
Em seu corpo versos; vírgulas e reticências.

SORRIR E CHORAR

Não aprendi a chorar...
Deixar a lágrima cair,
Escorrer por entre sorrisos
A pele ainda trêmula.

Chorar pela alegria
Do sentido doce do prazer
Em pétalas de desejos
A ternura no amor.

Poder sonhar e chorar
Sem deixar de viver
Apenas sorrir...
Mas sem deixar de chorar.

CANSAÇO

Não me peças poemas
Nem ao menos idéias,
Cansei-me da rotina.

Da manhã...
Do sol...
Da lua...

O que me resta nesse ócio,
Não me turva a razão.
Nem me deixa dormir

Sono eterno, efêmero.
Apenas o cansaço me assola.

NÁUFRAGO

Não sou peregrino
Muito menos judeu errante
Mas deixei minha terra
Minha pátria e meus sonhos.

Tiraram de mim a esperança
E privaram uma herança.
Nem promessa recebi
E vago sem destino.

Se me fosse dado a conhecer
Junto às águas do passado
As areias incontáveis que há no mar...

Lançar-me-ia nessas ondas
E morreria como um náufrago
Numa ilha soterrada.

Óleo sobre tela - Os Esponsais - 2004


quinta-feira, 26 de junho de 2008

MEU MUNDO

Acordei esta manhã querendo um corpo
Deixar o meu e partir para o mundo.
Mas quem disse que o mundo é corpo
E que vago sem rumo num mundo sem corpo.

Meu mundo sou eu e ele me pertence,
É minha extensão;
Harmônica com o cosmo e caótica no horizonte.

Acordei esta manhã querendo um mundo
Deixar o meu e partir o corpo.

SEGREDO

Deixe-me sussurrar em seu pescoço
O poema que acaba de nascer.
Permita-me invadir seus pensamentos
Com palavras ainda não ditas.

Solte sua magia e cante comigo
Os versos mais lindos
A uma donzela que hoje conheci.

Seus cabelos estão soltos e...
Os olhos fixos em minha boca.

Ao som da valsa a pés descalços
Dancemos na lua da meia noite
O ritmo do poema ainda adormecido.

PRAZER

O que vejo nesse delírio
São palavras consumidas pela busca.
São sonhos entrelaçados
Em seus pensamentos...


Por que esperar
Se posso possuí-la aos poucos,
Como dozes de vinho tinto
Deixando-a leve... Suave... Nas nuvens


E na busca de seus lábios...
Procuro audaciosos suspiros,
Umedecidos pela presença de prazer
Subindo ao êxtase...
A palavra molhada.

DISFORME

Os versos do poeta
Não dizem tudo.
Longínquas palavras
Arcaicos chavões.

Pretextos impróprios
Fazeres do dia.
Ao fim da jornada
Silêncio na mente.

O que importa as palavras...
São letras no bico...
A pena... O papel.

...Que as mãos do poeta
Tomam vida e forma
A palavra ...
dis
forme.

Óleo sobre tela - orquídeas - 96


FOLHA BRANCA

As palavras já não dizem,
O que querem expressar
Rabiscos... Traços... formas
E a folha branca rejeitada.

O que a rima desprezou
Os versos acolheram...


Mas a nudez do pensamento
Deixaram tímidas as palavras.
E o poema concebido
Deu lugar a poesia

E ao fim das linhas as palavras,
Cansaram-se de esperar.
E a folha branca...
Foi enfim compreendia.

SOU ASSIM...

Me perguntas quem sou
Fogem sonhos e esperança.
Não respondo e sinto que não estou...
Sou assim, assim como criança.

Me perguntas pelo meu olhar
Foge ao mar e afasta-se de mim.
Não respondo e mudo de lugar...
Sou assim
, assim como Caim.

Me perguntas pelo meu sorriso
Fujo o rosto e digo que não é meu.
Não respondo e sinto que preciso...
Sou assim, assim como Orfeu.

SONHOS

Chove em sonhos passados
Gotas de lembranças fúlgidas,
Adormecidas pelo tempo.

É noite? Nem madrugada.
A lua esconde seu sorriso
E as estrelas escorrem
Entre lágrimas de nuvem.


O céu? Não posso vê-lo.
Nem atingi-
lo o pensamento
Alcança, é ríspido, seco,
Como o que sinto.

Se por entre letras
Surgissem faíscas,Meus dedos agora se queimariam

A ESPERA

O que devo eu...
De bons propósitos esperar.
Nunca fui bom em alquimia,
As letras sempre me fugiram
.

Os olhos, pesados, cansados
A página relida, incompreendida.
Nem minhas mãos
Foram assim talentosas
.

E o pensamento? O perdi!
Desmanchou-se, dissolveu-se,
À palavra velada,
Sufocada, encoberta
.

Óleo sobre cartaz - pintado no ano de 95


Po...Ei....Ras....

O que nessa vida deixei
Não mais do que plantei.
Sorrisos lagrimas e suor cultivei
A herança das palavras lhe mostrei.

Guarde as lembranças dessas letras
E contemple entre as sombras
Poemas, frases e arranjos de pedras,
Lançadas ao mar, idéias... Tristezas, fronteiras.

DOR

Que há em meu peito?
Náusea... Ópio... Ânsia...
Não sinto dizer o que é.

Palpitações em pele trêmula,
São expostas ao ridículo...
Nem o ódio ou o prazer são ingeridos.


O tempo dissolveu o sentimento
E meu peito apenas consome...
Tédio embriagado em bebida seca

Amarga como o fel
Doce como o vinho.

ILUSÕES

Ancorado em um porto de ilusões
Vejo sonhos tênues e escassos,
Escorrendo gotas de chuvas límpidas
Contornando formas sólidas e cristalinas.

Sonhos incertos e ilusões adormecidas
Desvelam cores sem sombras,
Esfumaçadas pelos traços...

Das mãos suadas...
Com telas surradas...
Em tintas misturadas...

DESVELE

Já não são mais as palavras
Que pode dizer quem sou
Elas me fogem a todo o momento
E já não as tenho no pensamento

Estão soltas e sem firmamento
Vagam entre incertezas e desalentos.
Não são elas que me desvelam
Velam apenas por minha ausência.

Desfeitas em névoas transparentes
Entre o acaso do instante
Confirma apenas quem sou.